Tijolos ecológicos, produção simples e vedações ideais
Sem norma específica, tijolos não requerem queima para fabricação, são isolantes termoacusticos e economizam ferro e concreto
Tijolos ecológicos são materiais diferenciados no mercado nacional por uma série de motivos. São produzidos a partir de processos de estabilização de solo e agregados aglutinados com cimento. Diferentemente de blocos cerâmicos, por exemplo, eles dispensam o emprego de argilas e de outros recursos naturais específicos, além de não necessitarem de queima para a fabricação.
Ou seja, tem como características sustentáveis os fatos de não explorarem recursos naturais nem utilizarem lenha/necessitarem de árvores derrubadas. E consequentemente, não emitem gases de efeito estufa. São curados com água e sombra.
“Os processos de fabricação se resumem à prensagem em alta pressão do traço elaborado com solo, sendo basicamente terra comum e/ou resíduos sólidos diversos com cimento”, detalha Ruston Albuquerque, presidente da Associação Nacional da Indústria do Tijolo Ecológico (ANITECO).
“O endurecimento do material é feito com água, o que catalisa o cimento fazendo o bloco ganhar resistência. A água empregada no processo não sofre nenhuma contaminação e pode ser reutilizada ou devolvida à natureza”, complementa Albuquerque. Uma forma eficaz de fabricação se dá pela associação da planta de produção à cadeia produtiva de outra atividade, como a mineração de ferro, onde possam ser empregados resíduos gerados pela planta integrada.
Desta forma, a cadeia de valor se potencializa. “Por isso, a gama de tijolos ecológicos acaba sendo bastante extensa”, lembra Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP). Ainda mais hoje em dia, com o conceito de sustentabilidade bastante relacionado à reciclagem e ao reaproveitamento de todo tipo de material possível.
Aplicação dos tijolos ecológicos
Podem ser utilizados resíduos sólidos de outras atividades como os estéreis de mineração, vidro descartado, escória, entulho da construção civil e outros, transformando passivos ecológicos em ativos econômicos. Os tijolos ecológicos são destinados à vedação de paredes, comumente aplicados em construções residenciais – em sobrados de até três andares. Podem ser aplicados em construção de alvenarias autoportantes.
Como vantagens, essa tecnologia construtiva é um isolante térmico e acústico e pode representar economias de 70% do concreto e argamassa de assentamento, e de 50% de ferro. Isso além das qualidades sustentáveis já citadas.
Ainda assim, essa é apenas uma parte do processo, representa apenas um subsistema. “O contratante precisa fazer uma análise mais ampla. O tijolo ecológico pode ser utilizado, mas o restante da construção pode ser muito pouco sustentável. A análise precisa ser feita sobre sistema final e não os subsistemas”, ressalva Vasconcellos Neto.
“Os tijolos ecológicos de boa qualidade têm, em média, resistência de 4 MPa. Tijolos de boa qualidade, projetos bem elaborados e estruturas executadas com perícia técnica constituem edificações eficientes e seguras”, comenta Albuquerque. No entanto, a aplicação deste tipo de tecnologia esbarra na falta de uma norma técnica específica. Não existem parâmetros técnicos para esse tipo de construção, o que pode representar um risco alto para as construtoras.
Esse talvez seja um dos motivos para a baixa aplicação dos tijolos ecológicos na construção civil no Brasil, mesmo com essas iniciativas aqui desde a década de 80. Mas outra é a defasagem tecnológica existente aqui. “O desconhecimento e o preconceito acerca de novas técnicas e materiais construtivos ainda é um gargalo importante a ser vencido para a expansão do mercado para as inovações que já estão disponíveis”, encerra Albuquerque.
ECO PRODUÇÃO
Cada empresa produz o material de uma forma diferente. A Eco Produção, fabricante paranaense, trabalha com saibro fino. “O meu solo já está pronto, em análises de granulometria, feitas em laboratório. Quanto ao uso do cimento, é determinado pelos testes de ruptura feitos em laboratórios credenciados pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)”, afirma José Humberto Trivisan, diretor na Eco Produção.
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O produto não utiliza resíduos no processo atual. “Estamos em fase de testes com resíduos inertes que apenas agregam ao produto”, complementa Trivisan. Um dos motivos que mais pesa a favor dos tijolos ecológicos é o assentamento, que não traz nenhum desperdício. Com acompanhamento de um engenheiro estrutural, podem ser construídos até três pavimentos no sistema de grautes, respeitando o distanciamento deles a cada andar.
Texto escrito pela TEM Sustentável.